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O FALSO-SELF PRODIGIOSO E A “ERA DA TÉCNICA”: UM DIÁLOGO POSSÍVEL ENTRE D. W. WINNICOTT E MARTIN HEIDEGGER.
Authors: Caroline Vasconcelos Ribeiro
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Heidegger entende a “Era da Técnica” como a consumação da metafísica do sujeito, como a derradeira manifestação de um modo de ater-se ao real, cuja característica é a redução de tudo à condição de objeto para manipulação e cálculo. A violência desta racionalidade calculadora forja um modo contemporâneo de compreensão da realidade, marcado pelo imperativo do progresso, pela meritocracia, pela erradicação do mistério, em suma, pela redução do real a um fundo de reserva disponível. Para Heidegger, a compreensão técnica da realidade encobre a finitude e a vulnerabilidade humana, na medida em que submete o seu existir à ditadura do êxito, do progresso e bem-estar. Mesmo não fazendo uma análise ontológica da contemporaneidade — pelo fato óbvio de não ser um filósofo, mas um cientista — Winnicott, em A pílula e a Lua, esboça uma crítica a este progresso desenfreado que, por exemplo, finca uma bandeira esticada
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na lua, ao passo em que tende a lhe subtrair beleza poética. Nesse artigo, pretendemos não só tecer considerações sobre possíveis proximidades entre a análise de Heidegger e a de Winnicott acerca da contemporaneidade, mas, sobretudo, pretendemos perguntar como esta análise pode lançar luz sobre o entendimento do que Winnicott conceitua como falso-self prodigioso, cuja marca é uma hipertrofia do intelecto.