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Ser pontual num encontro que só pode falhar. Notas sobre a contemporaneidade do artista
Authors: Nuno Crespo
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Este artigo pretende ser um contributo para a discussão sobre o que é a contemporaneidade do artista. Não se trata tanto de responder à pergunta o que é a arte contemporânea, mas tentar identificar as razões pelas quais o modo de pensar cronológico é insuficiente para compreender a forma como os artistas estabelecem relações com o todo da história e do tempo. Uma relação que se descobre ser dialéctica e, seguindo as importantes sugestões de Didi-Huberman e Claire Bishop, anacrónica. Trata-se de uma caracterização da contemporaneidade motivada pelo modo como as próprias obras são objectos detentores de uma temporalidade própria que exige aproximações, experiências e leituras diferentes das usadas habitualmente para ler os factos do mundo. Primeiro descobre-se que o tempo da arte é lugar de intensidades e que cada artista entende a história não como o desenrolar linear de obras e artistas, mas como lugares simultaneamente presentes de que a cada momento se podem aproximar e apropriar. Depois,compreende-se que a contemporaneidade é, sobretudo, um método de pensar e produzir conhecimento e arte que se caracteriza por ser dialéctico. Finalmente,a relação dos artistas com o seu tempo é um lugar de tensão porque não podem escapar ao encontro que têm marcado com o seu próprio tempo (um artista é de um tempo e pertence a uma época), mas esse é um encontro, como veremos com Agamben e o escultor português Rui Chafes, destinado a falhar, porque a arte é lugar de interrupção e de intervalo e nunca um lugar coincidente com as luzes que iluminam uma dada época e, depois, porque os artistas são aqueles que fixam o olhar no escuro e nas sombras do seu presente fazendo dessa escuridão um elemento essencial da sua temporaneidade.