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EXPRESSIVIDADE E SUBJETIVIDADE NO WITTGENSTEIN TARDIO
Authors: MIRIAN DONAT
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O artigo apresenta algumas considerações acerca do papel da expressividade na
significação da linguagem psicológica, o que será feito em três momentos. Pretendo mostrar,
em primeiro lugar, que a expressividade da linguagem está enraizada na expressividade natural
da ação humana, de forma ampla, o que significa ser muito difícil, da perspectiva de
Wittgenstein, avaliar a expressividade simplesmente pela distinção de tipos de sentenças ou
mesmo de jogos de linguagem, pois a expressividade não é uma característica ou função da
linguagem, em abstrato, mas da ação humana, da qual faz parte a linguagem. Com isso, num
segundo momento veremos como essa forma de compreender a expressividade leva a uma
compreensão distinta da própria subjetividade, pois esta noção ajuda Wittgenstein a desmontar
os pressupostos dos dualismos de tipo mentalista, tais como o interior versus o exterior ou o
físico versus o mental, fundando uma particular concepção de ser humano, pensado por ele
como um ser vivo no “fluxo da vida”, ou seja, em meio a suas interações com o mundo e os
outros homens. Por fim, a concepção de Wittgenstein possibilita dissolver certas dificuldades
na compreensão dos modos de significação da linguagem psicológica, em especial de termos
como ‘eu’, que deixam de ser considerados a partir da referência a um mundo interior privado
e inacessível intersubjetivamente. Por estarem ligados a ações expressivas, tais termos são
compreendidos a partir dos lugares e papéis que os diferentes parceiros do jogo de linguagem
podem ocupar nas práticas linguísticas, eliminado o caráter substancial da subjetividade para
compreendê-la como constituída no conjunto de relações que os seres humanos compartilham
intersubjetivamente.