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VELHICE FEMININA: A SEXUALIDADE RECONFIGURADA NO ESPAÇO NARRATIVO
Authors: Susana Moreira de Lima

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Sob o olhar preconceituoso acerca da beleza feminina, especialmente na velhice, a cobrança de que a mulher deve parecer mais jovem é recorrente. Este trabalho discute a reconfiguração do corpo feminino envelhecido, no modo de relacionar-se com o outro, a partir do conto “Boa noite, Maria”, de Lygia Fagundes Telles, 1998, no qual a voz narrativa apresenta-nos uma mulher mais velha cuja relação com um novo companheiro, descrito como um homem “ideal”, é diferente do convencional. Ela decide ser auxiliada por ele na tarefa de morrer, antes que inicie o processo doloroso e degradante que antecede a morte por uma doença incurável. Trata-se, portanto, de uma história de amor e morte. Assim, esse conto se abre para uma discussão que, partindo da eutanásia, coloca em debate o quanto as mulheres velhas podem optar por se iludirem ou se conscientizarem; por terem prazer ou sofrerem; por desejarem o improvável ou serem felizes; por viverem ou morrerem; enfim, por fazerem escolhas. A narração desse texto traz uma abordagem transgressora da relação entre o homem e a mulher na medida em que esta inverte uma ordem no que diz respeito à idealização do outro. Toda essa construção de uma fi gura masculina cujo olhar é capaz de enxergar outra beleza na mulher que não a oferecida pela massificação midiática constitui um redirecionamento do que se encontra na literatura escrita por homens ou sob a perspectiva da dominação masculina, em que a mulher é idealizada. Deste modo, a escritora compõe uma personagem falsamente criada nos padrões da idealização do outro, mas dota-o também de qualidades que permitem a convivência feliz para ambos. Ela faz uma literatura do encontro. Com esse movimento da narração, a escritora articula outro espaço de enunciação.