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THE GHOST OF A CHANCE? THINKING COLOURS ACROSS LANGUAGES AND CULTURES
Authors: Alexandra Lopes
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Em 1810, Johann Wolfgang Goethe sugeria, em Zur Farbenlehre, que a cor é um fenômeno de
difícil classificação por resultar da fisiologia, da física e da perceção. O facto de a cor parecer
ser, em grande medida, experiencial coloca um problema interessante (e desafiador) quando estamos
perante uma obra literária que se centra nela. Neste artigo, defendo que a questão é, por
natureza, translacional e pode tomar forma a dois níveis: primeiro, ao nível da representação na
obra literária – como se traduz uma experiência visual em palavras? – e, segundo, ao nível da
sua re-representação em tradução – como se traduz o que é essencialmente uma experiência visual
que por si só já é tradução? Sugiro que, sempre que a cor é constitutiva, semântica e/ou morfologicamente,
do sentido em literatura, o texto é habitado por um grau da intraduzibilidade. O
desafio que a cor coloca às leis da probabilidade translatória merece estudo, porquanto pode pôr
a descoberto um manancial de criatividade e resistência ao entendimento solipsista de arte. Neste
artigo, lerei ‘Ghosts’ de Paul Auster, narrativa que integra A Trilogia de Nova Iorque, como um
texto que sugere uma hermenêutica da cor enraizada na cultura – ora, isto torna a narrativa
parcialmente intraduzível a um nível fundamental. Assim, discutirei o paradoxo que esta intraduzibilidade
fundamental constitui perante a tradução real da obra no contexto das duas traduções
existentes em português europeu.