Revista de Letras (UFC)

23-35

Authors: Carla Maria Cunha (UFRN), Maria Margarete Fernandes de Sousa (UFC)

Esta pesquisa tem como objetivos gerais identificar possíveis motivações para o uso inesperado de vírgula em textos acadêmicos e correlacionar certa presença de vírgula a determinadas motivações linguísticas. Nesta perspectiva, certas ocorrências ora são tidas como erradas, ora são vistas como resultantes de um entendimento inesperado do funcionamento do sistema. A análise toma por base um corpus constituído por textos escritos por alunos do Ensino Superior. Para a análise do material, nos apoiamos na abordagem da gramática tradicional, mas também no conteúdo da gramática descritiva, que não exclui de sua abordagem a norma, a regra, mas busca alcançá-las a partir da análise, no caso, de que diferentes usos da vírgula podem estar associados, por exemplo, a determinadas recorrências de estruturas oracionais da língua, à força do nível fonético-fonológico sobre o sintático, ou a divisões sintagmáticas. A análise dos dados revela que os alunos estão, de certa forma, tão familiarizados com certas sequências sintagmáticas, oracionais, que, mesmo quando elas não são aplicadas, acabam refletindo em outra formação, dada certa semelhança entre elas. A partir das constatações deste estudo, elaboramos possíveis diretrizes linguístico-metodológicas que minimizem as dificuldades dos alunos para aplicar, em consonância com a gramática normativa, a vírgula.

59-65

Authors: Sueli Saraiva (UNILAB)

Este texto aponta indícios de como a forma romanesca moderna, cunhada a partir da e para a cultura ocidental, passa por constantes processos de revisão e atualiza-se movida pelo projeto sócio-político- -cultural das sociedades que lhe dão conteúdo. No caso de Angola, novas estratégias literárias como a conjunção deliberada entre oralidade e escrita têm sido apresentadas nos romances do escritor e político angolano Boaventura Cardoso. O artigo, por isso, irá brevemente analisar e interpretar tanto o conteúdo quanto a forma literária adotados nos seguintes romances de Cardoso: O signo do fogo (1992), Maio, mês de Maria (1997) e Mãe, materno mar (2001). Como marcos teóricos desta investigação, adotaremos da tradição europeia o pensamento de intelectuais como Bakthin (Teoria do romance) e Auerbach (Mimesis). Do lado de uma tradição produzida a partir das próprias balizas da cultura africana, recorreremos a autores como Laura Padilha e Inocência Mata, além de Rita Chaves e Tania Macêdo.

74-83

Authors: José Carlos Siqueira (UFC)

Os romances finais de Eça de Queirós apresentam uma mudança acentuada de tom e estilo em relação à sua produção anterior. Uma possível estratégia para se entender tal mudança – fugindo da crença de que o romancista tenha se tornado um conservador, como deseja crer uma larga parcela da fortuna crítica tradicional do autor – deve passar por uma análise detida do jornalismo produzido na mesma época. John Gledson propôs um método semelhante para interpretar a ficção de Machado de Assis. Dessa forma, o presente estudo pretende de forma breve e ainda in progress analisar alguns artigos ou crônicas do escritor português que tematizaram a política burguesa, o anarquismo e o imperialismo daquele tempo. Pretende-se identificar neles, além da crítica combativa que sempre definiu Eça, características típicas da forma ensaio, conforme preconizada por Lukács. Caso isso seja possível, a forma ensaística poderia ser pensada também como uma possibilidade de se entender a ficção final de Eça.