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O HIATO (IN)TRANSPONÍVEL ENTRE FATOS E VALORES: UMA ABORDAGEM A PARTIR DO REALISMO-COGNITIVO DE THOMAS SCANLON
Authors: Lucas Mateus Dalsotto
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No decorrer dos últimos três séculos desenvolveu-se em ética uma
dicotomia entre fatos e valores cuja influência ainda hoje gera discussões.
Nesse ensejo, a intenção deste artigo é propor, a partir do realismo-cognitivo
de Scanlon, uma leitura alternativa a respeito dessa dicotomia estabelecida
entre fatos e valores. Em geral, boa parte desse problema deve-se ao motivo
de que as reivindicações do domínio normativo são muitas vezes avaliadas a
partir da ótica da ciência (domínio não-normativo), isto é, da visão científica
de mundo (scientific view of the world). Mas conforme buscarei sustentar, é
preciso que o domínio normativo seja avaliado a partir dos padrões de seu
próprio domínio cujo elemento básico é a relação ser uma razão para (being
a reason for). Verdades normativas são irredutíveis na medida em que são
determinadas por certos padrões de resposta dentro de um domínio
específico em si mesmo, o que no campo normativo é realizado pela ideia de
reivindicações normativas puras. Assim, partindo-se do pressuposto de que
verdades normativas são irredutíveis e que, nesse caso, podem ser
verdadeiras ou falsas, o melhor modo de compreendê-las é a partir da
relação R (p, x, c, a), sendo p um fato, x um agente, c um conjunto de
condições e circunstâncias e a uma ação ou atitude. A partir desse padrão
constituído no interior do domínio normativo, a relação R estabelece que p é
uma razão para um agente x realizar uma ação ou atitude a no conjunto de
condições e circunstâncias c. se isto estiver certo, então, ao menos em
termos normativos, o hiato entre fato/valor parece ser transponível.