Revista de Letras (UFC)

12-18

Authors: António Manuel de Andrade Moniz

Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) são romances históricos que constituem a trilogia indianista de José de Alencar, numa unidade reveladora da identidade brasileira, segundo a perspectiva do autor romântico. Por ordem inversa da data da publicação, tais romances focalizam o protagonismo de três fi guras indígenas na trama fundacional da brasilidade: Ubirajara, Iracema e Peri. Mas tal identidade político-cultural está assente no fenómeno da miscigenação. Como Alexandre e Roxana, na fundação do império macedónico; como Eneias e Lavínia, nas origens de Roma; como os casados de Goa, na consolidação do Estado Português da Índia. A união dos arcos simboliza a fusão das nações dos Tocantins e dos Araguaias, expressa pelo casamento de Ubirajara com Araci e Jandira. Moacir, o rebento da união de Iracema com Martim Soares Moreno, funda o Estado do Ceará. O beijo fi nal de Peri e Cecília indicia um Rio de Janeiro diferente da simples fundação colonial operada por Mem de Sá e D. António de Mariz. Percorreremos as principais vias de penetração nesse processo fundacional, garantia da fonte de fertilidade de um futuro, simbolizada pelo rio Paquequer, “fi lho indómito desta pátria da liberdade” (O Guarani, “Cenário”).

26-30

Authors: Edgar Cézar Nolasco

A epígrafe aposta a este ensaio mostra a estratégia recorrente da qual Clarice Lispector se valeu por toda sua vida intelectual, principalmente quando se tratava de sua aproximação com a tradição literária, quer esta fosse brasileira ou estrangeira, assunto este geralmente envolto a comentários sobre seu processo de criação literária. Trata-se, na verdade, de uma prática de denegação da escritora diante de seus possíveis amigos literários. Na verdade, entendemos que a escritora se vale de uma negativa com relação àqueles amigos que de fato a influenciaram; enquanto, por outro lado, de um modo geral faz questão de tornar público aqueles amigos que a princípio não causariam a ela nenhum medo da influência. Com relação ao primeiro caso, o exemplo mais plausível ainda é com relação à escritora inglesa Virginia Woolf. Já com relação ao segundo caso, o escritor que nos ocorre pode ser Monteiro Lobato. Não que um fosse menos importante na vida intelectual da escritora do que outro. Muito pelo contrário. Sua admiração e fidelidade, por exemplo, ao autor de Reinações de narizinho é um exemplo de uma relação transferencial entre leitora e livro que se sobressai entre todos da relação de amizade que a escritora fez questão de tornar pública para todos seus leitores. Para voltarmos à relação que ora nos interessa aqui, entendemos que o escritor romântico José de Alencar ocuparia mais o lado daqueles que menos causariam algum medo no tocante aos precursores da escritora,apesar de não descartamos a forte idéia de que ele, de alguma forma, sobretudo pelo lugar que ocupou na fundação da tradição literária brasileira, sempre retornou mesmo que de forma fantasmática em sua criação literária, como ela deixa sugerir na passagem que se encontra em epígrafe.

42-46

Authors: Fernanda Coutinho

VESTÍGIOS DA INFÂNCIA DE UM ESTÍGIOS DA INFÂNCIA DE UM ESCRITOR ROMÂNTICO

54-61

Authors: João Roberto Faria

O envolvimento de José de Alencar com o teatro, principalmente no início da sua carreira literária, não foi pequeno. Antes de se tornar o romancista consagrado do nosso movimento romântico, ele desejou ser dramaturgo, como demonstra a cronologia da sua vida e obra: no fi nal de 1856, nas páginas do Diário do Rio de Janeiro, ele publicou Cinco minutos, romance de estréia, ao qual se seguiu O guarani, no início do ano seguinte. Nessa altura deixou A viuvinha inacabado, para, em seguida, escrever sete peças teatrais, entre 1857 e 1861: O Rio de Janeiro, Verso e Reverso, O demônio familiar, O crédito, As asas de um anjo, Mãe, O jesuíta e O que é o casamento? Só depois dessa atividade de dramaturgo é que Alencar retomou a de romancista, com Lucíola, publicado em 1862. Em 1865, já afastado do teatro, escreveu sua última peça, A Expiação.

69-74

Authors: Marcelo Peloggio

No texto literário, há um sem-número de expedientes que asseguram às personagens, em maior ou menor grau, uma dimensão humana, ou melhor, sentimental. Com as de José de Alencar não haveria de ser diferente. Da técnica de se conferir às cenas a dramaticidade que o entrecho exige afl oram sentimentos os mais diversos, por exemplo: a cupidez (O guarani), a vingança (O gaúcho), o ressentimento (Ubirajara), o amor repassado de ódio (Senhora). Assim, pois, um emaranhado de paixões como que vai ligando as personagens umas às outras, em razão da proximidade ou não dos sentimentos; esses se transformam em cores vivas, apoiando a beleza plástica das situações, sem que o torneio da locução, a elegância do ritmo e a estrutura formal sejam tudo. Portanto, a linguagem alencarina nada seria se fosse apenas buril a serviço de uma “descrição pela descrição”; ela emociona pelo fato de referir-se, em pormenor, aos interesses que as personagens mostram ter pelas outras ou por aquilo que as traz à sua mente – as coisas propriamente ditas: o roteiro da caverna lendária (As minas de prata), a botina de criança (A pata da gazela), o remoinho do boqueirão assassino (O tronco do ipê), ou o retrato de Seixas (Senhora).

83-88

Authors: Maria Cecília de Moraes Pinto

Uma das questões centrais para a melhor leitura e avaliação da obra de Alencar continua a ser sua relação com autores estrangeiros. No prefácio aos Sonhos d’ouro, aproximando realidade nacional e modelos estrangeiros, ele pretende aclimatar uma “flor mimosa” (1959: I, 699) em terras novas. Se tal intenção justifi ca-se e é concretizada, sobretudo no que se considerou globalmente como romance indianista, mas também naquele dito regionalista, com nítidas marcas nacionais, o caso se complica nas narrativas que têm por objeto a vida urbana. Sabidamente, a crítica do século XIX tendeu a considerar como decadente esse aspecto de sua obra,enquanto o XX procurou resgatá-la.

92-95

Authors: Mary Del Priore

Para começar, uma pergunta: a história conta uma estória? Ou quem conta, é o contador de folhetos de cordel, a velha avó, o grande Pedro Nava em suas memórias, o menino José de Alencar que lia folhetins para sua mãe? Não são eles, afi nal, uma espécie consagrada de rosto e de voz da história? Não se tornou freqüente dizer que um bom livro de história – como os que escreve, por exemplo, o jornalista Eduardo Bueno – se lêem como romances, escapando ao tédio que inspiram os livros universitários? E nesta fórmula elogiosa, o como – sublinhe-se - é fundamental. O livro é, então, recomendado. Trata-se de história garantida. De fatos acontecidos, de um fenômeno histórico explicado, de arquivos e documentos inéditos que foram examinados, de conhecimentos novos descobertos.

101-105

Authors: Odalice de Castro Silva

OUTRA “NOTA À IRACEMA”: O CORPO ESCRITO DE MARTIM ESCRITO DE MARTIM

114-120

Authors: Vera Lúcia Albuquerque de Moraes

JOSÉ DE ALENCAR E A ORGANIZAÇÃO DO CAMPO INTELECTUAL DO SEGUNDO IMPÉRIO

125-133

Authors: Revista de Letras

Iconografia acerca da vida de José de Alencar