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Garimpando no Espinhaço: As pedras de Drummond
Authors: Everaldo Gonçalves
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Tinha uma pedra no meio do caminho. Com esta afirmação, em um poema sem rima, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) entrou para o fechado grupo dos modernistas paulistas. E qual era a pedra? O que o poeta quis dizer com a pedra que colocou no meio do caminho? Recentemente, reli e me vali dessa enigmática poesia de Drummond, para mostrar que, muito embora o Brasil tenha sido decantado em prosa, como sendo um País rico em pedras preciosas, não o é sequer em versos, com elas. Agora, espero homenagear os cem anos e pico do poeta e, quem sabe, colocar uma pedra preciosa em cima de tão célebre poema. Faz-se na vida, inclusive, mau uso delas – as pedras –, tanto no real como no imaginário. Valoriza-se, às vezes, o lado esotérico do fetiche das pedras, que não têm poder de cura algum – exceto o de um bom placebo –, em detrimento do belo em si, de suas cores ou das formas geométricas perfeitas do cristal, como se tivesse sido lapidado pela própria natureza, que pode ser superada pela mão do artista o qual faz da pedra bruta uma joia, um capital de elevado valor de troca, sem valor de uso, posto que é o supérfluo do supérfluo. O suprassumo da inutilidade, segundo Marx, é como se o trabalho do homem lhe tivesse dado a vida, cujo fetiche faz com que elas, nas vitrines expostas como mercadoria, nos olhem de maneira sedutora, chamando-nos para serem compradas. Porém, não é fácil organizar seu mercado. As pedras, nada mais que uma acumulação primitiva do capital, o extrativismo do capital pronto da natureza, perdem muito do seu valor potencial, devido ao baixíssimo teor na jazida e o elevado grau de incerteza na produção, por isso, baseada nos garimpos, em geral lavras clandestinas (80% da produção nacional), sem atestados de origem e autenticidade caem no mercado informal. (...)